quarta-feira, 1 de abril de 2009

*São Lucas e a insônia

*Plínio Carlos Baú

Lendo o excelente site Espaço Vital encontramos um interessante artigo escrito pelo cirurgião Plínio Carlos Baú. Autorizados pelo autor, reproduzimos o texto nesse espaço, eis que o que ali consta constitui um relato pungente de uma experiência de vida.

Há cerca de doze anos, um paciente idoso, já no ocaso da sua existência e que, periodicamente era internado por complicações do diabete, teve uma noite de insônia.

Calçou os chinelos, vestiu o roupão e, alta madrugada, saiu do quarto indagando, a quem encontrasse, quem era São Lucas.

Como não encontrou resposta entre os sonolentos funcionários do seu andar, foi descendo todos os andares, perguntando , afinal, quem era o santo que dava o nome ao hospital. Percorreu todo o trajeto, do nono andar ao térreo, inquirindo a auxiliares, técnicos, funcionários da nutrição, seguranças, familiares de outros pacientes, quem era São Lucas.

Amanhecia o dia, quando, derrotado em sua incursão, exausto, retornou ao seu quarto.

Foi assim que o encontrei na manhã em que fui visitá-lo. Estava muito amuado, e foi logo disparando:

- Droga de hospital! Ninguém sabe quem é o santo!

E relatou-me a sua aventura noturna.

Continuou:

- Fui até a capela. Não encontrei nem um santinho ou imagem, ou alguém que me explicasse quem é São Lucas…”

Expliquei-lhe, do meu modo, que São Lucas era um apóstolo de Jesus, que tinha algum pendor em cuidar de doentes, e por isso era considerado o médico da turma dos doze. Tratava-se do santo padroeiro dos médicos.

Cerca de um ano depois, o paciente faleceu em sua cidade de origem, rodeado por muito carinho da família e dos muitos amigos que fizera em vida. Na véspera do seu falecimento, num dos últimos atos de lucidez, chamou a esposa e pediu que ela providenciasse uma imagem de São Lucas para o hospital que tantas vezes e tão bem o acolhera.

Este último desejo foi atendido e, com o auxílio do Irmão Erno Cristh, fez-se a encomenda a um escultor de origem austríaca residente em Treze Tílias, Santa Catarina, conhecido como Sr.Mosel.

Hoje, o santo assiste tranqüilo a todas as pessoas que circulam pelo saguão do nosso hospital e aquele velho morreu em paz. Foi um homem honesto, muito simples e bom.

Era meu pai.