segunda-feira, 27 de abril de 2009

Um recolhimento inesperado


O momento mais triste do futebol não é quando nosso time leva um gol. Tampouco quando perdemos uma decisão de campeonato. Para quem ama o esporte, não existe nada mais lamentável do que assistir um jogador desperdiçar sua carreira por suas más escolhas. Afinal, por trás da imagem sólida de máquina que um jogador de futebol carrega, existe um ser humano. E suas escolhas como indivíduo é que decretam o seu rumo no futebol.

Talvez o maior exemplo de carreira destruída seja George Best. Nascido em Belfast, na Irlanda do Norte, Best foi para muitos o maior jogador de futebol de todos os tempos. Em sua terra natal existe uma placa com a inscrição: Maradona Good. Pelé Better. George Best. A frase brinca com o sobrenome do jogador (Best significa “melhor” em Português) e por ela mede-se o prestígio que ele alcançou por seu talento. Descoberto por olheiros em campos de rua George Best chegou ao Manchester United em 1963 e logo despontou como craque da equipe. Seus dribles fáceis de futebol provocador logo contagiaram o país inteiro, e ajudaram a alçar o Manchester United ao topo do futebol europeu pela primeira vez em sua história em 1968, título que o clube só voltou a conquistar em 1999 e, mais recentemente, em 2008.

Porém, na mesma proporção de seu talento estava sua irresponsabilidade: habituado a freqüentar capas de tablóides sensacionalistas por sua vida desregrada fora de campo, Best caiu em decadência já na década de 70 ao sair do Manchester deixando a equipe rebaixada à segunda divisão nacional. Seu vício no álcool acabou por levá-lo para a cadeia por oito semanas nos Estados Unidos – agrediu um policial que lhe autuava por estar bêbado. Destruído pela bebida, Best teve apenas em seu leito de morte a consciência dos danos que seu vício lhe trouxe em sua vida. Pediu que fosse fotografado em seu estado deplorável para servir de exemplo, com a seguinte mensagem junto à foto: “Não morram como eu”. Foi o último suspiro do homem que encantou milhões de pessoas simplesmente por jogar futebol. Faleceu cinco dias depois, vítima de falência múltipla de órgãos.

É por isto que me entristece ver que Adriano está abandonando o futebol. A mesma bebida e os mesmos cigarros tragados por George Best encantam hoje o jogador que outrora era unânime dentre os centroavantes brasileiros passíveis de serem convocados. Só que ao contrário do irlandês, Adriano sai de cena sem ter conquistado nenhum campeonato relevante em lugar algum. Nos anos de 2004 e 2005 chegou a ser um dos melhores centroavantes do mundo. E só. Jamais foi protagonista de um título expressivo e pouco fez por sua Seleção Nacional. O exemplo de George Best – ou até mesmo Garrincha, para ser mais próximo de seu amado Rio de Janeiro – não lhe serviu de nada. Adriano está colocando um fim (ou um até logo?) em uma carreira que pouco fez para o futebol. Sai de cena rico como jamais imaginou que seria, mas será mesmo que se resume a isto? Aos 27 anos já não tem mais ambições de vida e desafios a enfrentar?

Fizesse como Romário, que já consagrado na história dos maiores do futebol retornou ao Brasil para também fazer história na pátria amada, seria compreensível. Seria uma opção de vida e também profissional. A escolha de Adriano reflete algo obscuro que não está sendo comentado. Algo incompreensível. Nos resta esperar as notícias finais da triste carreira de um homem que já foi chamado de Imperador.


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