quinta-feira, 2 de abril de 2009

A solução salomônica de André Krieger

O rei Salomão era conhecido por sua invulgar sabedoria. Tamanha era a habilidade do monarca hebreu para solucionar os problemas que , passados milhares de anos de seu reinado, o mundo judaico-cristão ainda qualifica de “salomônico” ao homem de decisões sábias e ponderadas. Outros líderes nacionais, como Churchill, Roosevelt, Vargas e Helmut Kohl eram conhecidos pela suas capacidades invulgares de tomar decisões. Nenhum deles entrou na linguagem cotidiana. Salomão entrou. É o único nesta condição.

Ou era.

Nesta quarta-feira, o vice-presidente do Grêmio Porto-alegrense, André Krieger, deu importante passo para ameaçar a honra solitária de Salomão e emplacar um novo adjetivo na língua portuguesa: Kriegerônico. Sim, senhores. Daqui para diante, todos os lusófonos – e, em especial, os habitantes desta meridional Província de São Pedro – deverão preferir o vocábulo em questão (prestes a ser dicionarizado, segundo me contaram – os atualizadores do Houaiss estão atentos) quando quiserem se referir a um homem capaz de tomar decisões excepcionalmente sábias, daquelas que agradam a todos e promovem o bem geral.

Não posso encontrar melhor exemplo de uma decisão Kriegerônica (assim mesmo, com inicial maiúscula) do que a do próprio André Krieger no caso envolvendo o treinador Celso Roth e o jovem Douglas Costa, no treino de ontem. Senão vejamos:

“Ao justificar sua decisão de repreender o treinador, o diretor de futebol André Krieger explicou que cobranças dessa forma só se justificam em locais fechados. Por isso, segundo ele, todos os treinamentos passarão a ser com portões fechados a partir de agora, “para que a intimidade do clube não seja devassada”.”

A matéria inteira está aqui.

Infelizmente, André Krieger não tem, como Salomão tinha, um escriba ocupado em coligir suas lições. Hoje, podemos conferir as palavras do rei hebreu na Bíblia, ou, mais precisamente, no Livro da Sabedoria. Krieger não tem um Livro da Sabedoria para perpetuar seu legado. Mas temos essas e outras reportagens para inspirar nossas futuras ações em casos semelhantes. Baseados nelas, podemos imaginar que uma decisão tipicamente Kriegerônica num caso de agressão da esposa por seu marido, denunciado por vizinhos, seria isolar a residência da vítima com paredes acústicas, a fim de que os intrometidinhos do mundo exterior não atrapalhem a privacidade do casal. Afinal, como o sapientíssimo Krieger sublinhou em suas agora imortais e inspiradoras palavras, “cobranças desta forma só se justificam em locais fechados”.

A partir de agora, o Grêmio só fará treinos fechados. Celso Roth poderá xingar os jogadores todos – e certamente não fará isso apenas com meninos imberbes, como Douglas Costa, mas também, como homem corajoso que é, com os mais experientes, como Tcheco , Souza, Herrera e Maxi Lopez – e com todos os palavrões que lhe vierem à cabeça. Poderá gesticular à vontade. Não poupará sequer a mãe dos jogadores, se achar que assim deve proceder. E poderá até mesmo ir às vias de fato, se sentir vontade. Não interessa. Se for tudo feito às portas fechadas, não há qualquer problema. Assim reza o Kriegeronismo.

Que assim seja.

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