terça-feira, 21 de julho de 2009

Cartas de Burckhardt


burckhardt

O suíço Jakob Burckhardt (1818-1897) passou para a história como o típico erudito solitário, austeramente dedicado aos seus elevados afazeres e desligado do impuro mundo exterior. Isso foi, ao menos em parte, verdade: homem de hábitos simples, morador do segundo andar de uma casa de comércio durante a maior parte de sua vida, quase que inteiramente dedicado à sua cadeira de História da Arte na Universidade da Basiléia, Burckhardt contemplou com a sua época com a preocupação de um apaixonado pelos valores perenes da civilização européua diante da derrocada geral trazida pelo populismo, o capitalismo industrial e o igualitarismo.

Nestas Cartas (Topbooks, 416 páginas), vemos quão freqüentes eram estas preocupações na cabeça do autor da monumental A Cultura do Renascimento na Itália. Dirigidas a vários interlocutores – dentre os quais ninguém menos do que Friedrich Nietzsche, amigo do historiador – , Burckhardt discorre nelas sobre a sua concepção de história (outra preocupação freqüente), sobre a ascensão dos governos democráticos (entendidos aqui no seu pior aspecto, ou seja, demagógicos) na Europa e a massificação da cultura, além de muitas, muitas opiniões sobre arte, cultura e tudo o que diz respeito ao sacerdócio deste autodenominado “monge secular”.

Onde encontrar:


segunda-feira, 20 de julho de 2009

Série Clubes Brasileiros – São Raimundo – Santarém

O São Raimundo, de Santarém-PA, disputa Campeonato Brasileiro da Série D.Os habitantes do sul deste imenso país praticamente não conhecem a maioria dos participantes da série D, desconhecimento que pretendemos diminuir com esta postagem sobre o time de Santarém , ” A Pérola do Tapajós”que fica a mais de 1000Km da capital do estado do Pará, a oeste, em uma região que pretende a criação de um novo estado(Tapajós).

A cidade tem 22.887 km², com uma população aproximada de 275.000 pessoas.

rio tapajós e amazonasRios Tapajós e Amazonas em Santarem

Foto: Ronaldo Ferreira

igrejaIgreja de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Santarém

vitoriaVitória Régia

colosso

Colosso do Tapajós

Fonte da foto

O alvi-negro santareno,vice-campeão paraense, que tem uma pantera negra como símbolo foi fundado em 09 de janeiro de 1944 . Como curiosidade o fato de que o nome original do time era São Brás, mas na hora da inscrição para a primeira partida um dos dirigentes a fez em nome de São Raimundo. A camisa alvi negra que hoje utiliza somente foi adotada a partir de 1950, até então o uniforme era totalmente branco.

Seu estádio Dr. Everaldo Martins (O Panterão) leva o nome de médico, desportista e político que foi prefeito de Santarém em duas portunidades é utilizado apenas para treinos e jogos não-oficiais.

Os jogos oficiais da Pantera Negra Santarena são realizados no estádio estadual Jader Barbalho, o Barbalhão ou Colosso de Tapajós, sobre cuja capacidade divergem o clube (15.000) e a Federação Paraense de Futebolom (19.124) . Foi inaugurado em 1987 pelo então governador do Pará Jader Barbalho.
Na primeira partida oficial, o clássico Rai-Fran( São Raimundo e São Francisco) que terminou empatado em 1 a 1. Nas penalidades, o Leão Azul santareno levou a melhor, 4 a 2, e levou o troféu que levava o nome do estádio.

O São Francisco, tradicional rival do São Raimundo vive momentos difíceis, e tenta apoio de sua torcida para elaborar formas de reerguer-se. No entanto, a rivalidade persiste. Uma das torcidas organizadas do São Raimundo, os Loucos Alvinegros, criou uma camisa alusiva ao clássico.

Camisa_RAIFRAN_2009_AZUL frenteFonte

O técnico é Arthur Oliveira e o time conta com Labilá, Souza, Preto Marabá, Marabá, Ceará, Dudu, Beto, Trindade, Ciro, Déo Curuça,Hallace e Felipe Bragança.

Moscote_SaoRaimundo_Esporte_Clube-Pantera

MascoteUniformes_e_Simbolo-SaoRaimundoE.C

Uma curiosidade a respeito da torcida do São Raimundo é o fato de que existe uma conclamação da direção para que a mesma efetivamente apoie o clube, comparecendo ao estádio. Comparando os preços praticados com os do líder da série A o Atlético Mineiro ou com o campeão de público da série D entendo que teremos uma idéia da razão que faz os torcedores santarenses permanecerem em casa ao invés de irem ao Colosso. A média do preço dos ingressos do Atlético Mineiro é 14 reais, do Santa Cruz é de 5,6 reais, enquanto que a média dos preços praticados pelo São Raimundo é de 13 reais.

Site oficial

Maior comunidade no Orkut

Torcidas organizadas: Loucos Alvinegros, Mancha Negra, Garra Alvinegra, Fúria Alvinegra, a Nação.

Link relacionado:Tabela do Campeonato Brasileiro de Clubes- Série D






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domingo, 19 de julho de 2009

19 de julho- Dia do Futebol


gol maxiFonte GremioNet

A data de fundação do Sport Club Rio Grande, na cidade de Rio Grande/RS, o clube mais antigo do Brasil , é utilizada para homenagear o futebol.

Neste 19 de julho de 2009, foi disputado, no estádio Olímpico em Porto Alegre, pelo centésimo ano, um GreNal que foi uma verdadeira homenagem ao futebol.

souza e tchecoFonte
souzaFonte
souca caFonte
Souza homenageou o primeiro GreNal

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quinta-feira, 16 de julho de 2009

Carta a um amigo europeu


Prezado João,

Escrevo aqui momentos antes do principal acontecimento do ano. Já imaginas qual é, decerto. Lembro de ter comentado contigo em uma tarde de café qualquer quão importante é, neste lado do mundo, um jogo de futebol, importante ao ponto de nem saber se pode ser mesmo chamado de “jogo”. Jogo é diversão, é brincadeira, tem um começo e um fim que não se transmitem para o mundo exterior a ele. Uma final de Libertadores, como sabes, não é bem assim. Sei que vocês aí recebem notícias meio aterrorizantes sobre o que é o futebol neste canto esquecido do mundo e de tudo o que o cerca – aliás, eu diria que qualquer coisa aqui parece aterrorizante a vocês, não é? – e acredito que até achem interessante.

Mas, como eu dizia, o futebol numa Libertadores da América não é um jogo. Um jogo, como eu também disse antes, é uma brincadeira. Assim como meninos brincam de soldadinhos de chumbo, vocês brincam de guerra no futebol. Vocês aí na Europa brincam de repetir as pelejas do passado, transformando o gramado em uma guerra metafórica num tempo em que as velhas batalhas de capa e espada já não existem aí. Aí, o futebol é um espetáculo, algo como as cavalhadas do Maranhão, no Norte do Brasil, em que são representadas as guerras entre mouros e cristãos. Aqui, não. Há algo de terrivelmente sério numa Libertadores da América. Há algo de profundamente vital, essencial, humano num jogo deste torneio. Num jogo aí na Europa, numa cavalhada no Maranhão, numa peça de teatro, num filme sobre a Segunda Guerra temos garantias de que, acabado o espetáculo, sairemos são e salvos para o conforto de nossas casas. Façamos uma comparação: quem ganha o campeonato europeu, ganha a Liga dos Campeões, título um tanto insípido, cujo nome pouco significa. Quem vence o torneio da América do Sul recebe uma taça que homenageia os homens que tiraram os nossos povos do jugo dos europeus – de vocês – e colocaram o nosso próprio destino em nossas mãos. Quem vence uma Libertadores recebe uma taça cheia de ressentimento, dor, passado desgraçado. Uma taça cheia de sangue – do nosso sangue.

Lembro de ter visto certa vez um documentário sobre um antigo jogo dos maias, semelhante ao futebol, que tinha um significado ritual, religioso, onde o vencedor era obrigado a sacrificar-se a um deus de nome impronunciável. O jogo, se bem me lembro, tinha algo a ver com a representação da criação do mundo. Nesse sentido específico, há um jogo, sim, na Libertadores. Um jogo sério – o que, como eu disse antes, não é propriamente jogo – mas antes um ritual que, como todo ritual, reproduz simbolicamente uma situação. Jogar a Libertadores é repetir a aventura dos espanhóis e portugueses por estas terras que nunca deixaram de ser totalmente selvagens. Os estádios têm auras míticas, são encobertos por névoas, espíritos dos índios mortos pelos conquistadores (que não são os teus, mas sim os meus ancestrais, por mais que nos custe admitir), dos conquistadores abatidos pela doença e pelas feras reais e imaginárias, dos imigrantes enganados por falsas promessas de fazer uma América bem diferente daquela com a qual sonharam. Quem joga uma Libertadores da América sobe aos Andes com o Basco Aguirre e enfrenta a cólera dos deuses andinos, furiosos por terem sido acordados de seu torpor forçado: lá em cima, o Sporting Cristal, o Nacional de Medellin, o Millionarios de Bogotá, o Bolívar e o Blooming são sacerdotes de uma estranha magia que rouba o ar do visitante e o deixa abatido para a decapitação (Sim, João, não há leis contra jogar na altitude, todos sabem que faz mal, que prejudica os pulmões, que põe em risco a vida do atleta, mas não interessa: é preciso cumprir o ritual). Lá de cima, pode mirar outro desafio terrível, a cidade de Cali, caliente e úmida como são as cidades da planície na Colômbia, verdadeiro inferno verde do América – nome altissonante e elucidativo -, quatro vezes vice-campeão do torneio, que enverga uma camisa vermelha assustadora

Desce quase quatro mil metros e enfrenta o temível estádio Defensores del Chaco, localizado em meio ao desolador Chaco paraguaio, longe de Deus e dos homens civilizados, onde os inimigos do Cerro Porteño e do Olímpia recebem a dura vingança do povo paraguaio esmagado por uma guerra covarde; pega uma barca no Rio Paraguai, desce pelo rio Paraná e chega ao Rio da Prata, onde no passado aportaram miseráveis de todo o mundo em busca de pão em uma Argentina cheia de trigo e de vinho, mas também cheia de governantes corruptos e desalmados; alguns deles amontoaram-se em casebres miseráveis nas proximidades do rio e, junto a bolivianos, paraguaios e “cabecitas negras” do Norte argentino, recepcionam com paus e pedras, bumbos e bandeiras, voz e coração, aos inimigos do Club Atlético Boca Juniors. Há clubes que se localizam nos bairros: La Boca é o único bairro que é localizado no terreno do Boca Juniors, válvula de escape para os dramas, as frustrações e as desgraças dos pobres moradores dos arrabaldes de Buenos Aires. Ali perto, em La Plata, um pouco mais ao sul, situa-se o Estudiantes de La Plata, mestre incomparável na arte de torturar o adversário – fisicamente, é claro, aos pontapés, aos cotovelaços, aos furos de agulhas escondidas nas meias. Tantas pauladas sofreram os ingleses do Manchester United na final do Mundial de 1968 que reuniram os demais clubes europeus e decidiram, de uma vez por todas, que naquele continente de incivilizados não jogariam nunca mais.

Do outro lado do Rio da Prata, dois velhos gigantes aguardam cansados, quase adormecidos. São o Peñarol e o Nacional. Autênticos guerreiros, cheios de cicatrizes, com olhar melancólico de tanto olhar para o sul ártico do mundo, de tanto lutar por sua independência de dois gigantes vizinhos, os dois não assustam muito ao visitante desavisado. São clubes pobres de um país pequeno e pobre. Teoricamente, vencer um clube uruguaio é tarefa fácil. Quase todos pensam assim. O Brasil achou isso em 1950.

Aliás, bem lembrado: subindo os pampas uruguaios pelo Norte penetra-se no continente Brasil. Ali os demônios que o peregrino enfrenta são outros, talvez ainda mais traiçoeiros. A simpatia e a bonomia inata dos brasileiros revela uma aqui uma face desconhecida e cruel. O Cruzeiro de Minas Gerais, terror dos argentinos e uruguaios, apelidado La Bestia Negra, joga seusadversários num campo imenso e cheio de armadilhas preparadas pelos escravos e pelos portugueses para quem se aventurar a tentar profanar o ouro inesgotável de suas Minas; o sorridente Rio de Janeiro despeja uma gargalhada malévola no Maracanã colorido pelo vermelho e pelo negro, as cores de Exu, o demônio da umbanda; já em São Paulo, cidade arrogante e poderosa, construída por uma raça de homens altivos e industriosos – os bandeirantes -, a cidade de todas as indústrias humanas, impõe-se o São Paulo Futebol Clube ao seu visitante com o dedo em riste e o olhar fime e desafiador. Em Porto Alegre, despertar a fúria do Grêmio de Porto Alegre – o mais furioso de todos os nossos clubes – é despertar o furor do velho gaúcho defensor das fronteiras do Império contra o inimigo castelhano e convidá-lo para uma peleia de faca na mão ao som ribombante dos tambores da enlouquecida torcida do Imortal Tricolor.

Isso parece entretenimento, não é, João? Parece que dá uma certa graça ao torneio. De fato, achamos isso mesmo. Não creio que, para a gente, cadeiras almofadadas, lugares numerados, limpeza impecável nos banheiros e a presença efetiva – e não apenas simbólica – da polícia seja algo atrativo, desejado, esperado. Tudo isso transformará a nossa Libertadores em apenas mais um jogo, mais uma diversão, mais uma brincadeira. Pedir para que façamos isso é o mesmo que pedir a um católico que retire a comunhão da missa: sem o corpo de Cristo, a celebração não tem sentido. Sem o nosso corpo – exposto, maltratado, arriscado, sujo, enlameado – a Libertadores não existe e aqueles encontros de dois clubes passarão a ser meras partidas de um torneio qualquer como essa Liga dos Campeões. A Libertadores da América repete as contradições deste lado contraditório da América. A Libertadores da América é a confirmação do epíteto de que o futebol é como a vida. A Libertadores da América é, sim, como a vida – a nossa vida.

Sim, eu sei que escrevi muito. Fico por aqui.

Lembranças a ti e à família.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Os Cobra Coral e o Santa Cruz


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Fonte da foto

O Santa Cruz de Recife iniciou sua jornada na série D do Campeonato Brasileiro com uma extraordinária participação de seu torcedor. O Estádio do Arruda em Recife registrou o maior público da rodada de futebol no final de semana em todo país. A Nação Coral certamente foi a imensa maioria dos 45007 torcedores pagantes no Arruda no último sábado quando Santa Cruz e Central empataram em dois gols. O segundo maior público da rodada foi domingo no jogo entre Grêmio e Corinthians, no estádio Olímpico, com 30.070 pagantes.

O Santa Cruz conseguiu reunir em um único jogo como mandante mais torcedores do que o líder em média de público na série A. O Atlético Mineiro tem a média de 32627 torcedores presentes nos quatro jogos em que foi mandante.

A apaixonada Nação Coral está demonstrando determinação em auxiliar seu time do coração a sair da incômoda situação em que está colocado. A exemplo dos tricolores baianos que jamais deixaram o EC Bahia sozinho nas agruras da série C, os ” cobra coral” certamente farão diferença nas partidas disputadas no Mundão do Arruda.

A Série D promete.









Publicado por Miss Lou Lou | Esportes | |

Grêmio x Corinthians – impressões de uma torcedora

Nesta tarde de domingo, o Olímpico contou com um público de 33 mil pessoas. O que, no meu ponto de vista, é quase perfeito , porque na casa dos trinta mil a torcida sempre é mais vibrante, sem aquela superlotação característica de jogos decisivos. Excesso de público quase sempre traz junto diminuição de entusiasmo. O jogo iniciou da forma que eu esperava, com a torcida saudando respeitosamente a Mano Menezes, o técnico a quem devemos a restauração de nosso orgulho como torcedores, eis que nos tirou das profundezas da série B para a disputa da final de uma Libertadores. Cantamos com muita emoção o “Mano Menezes / Dá-lhe Mano Menezes” puxado pela Geral no ritmo de “Guantamera”. E, ao final do jogo a comprovação de que o sentimento de apreço é recíproco, o que aliás já ficava evidente a cada encontro do torcedor com o técnico, nos idos de 2007.


– Eu vi a torcida do Grêmio ter essa atitude diversas vezes quando eu trabalhava aqui com profissionais que tiveram alguma participação e ficaram na história do Grêmio.
Eu sinto na mesma proporção pela torcida do Grêmio o que ela sente por mim .

Durante a partida confesso que me pegava olhando com carinho para Ronaldo, o lendário camisa 9 do Corinthians a quem nunca havia visto jogar ao vivo. Mesmo sendo sombra do que foi, ainda carrega consigo a aura do grande craque. Mesmo como adversário e mesmo sendo provocado, tenho certeza de que a maioria fica contente em saber que voltou a jogar.

Mas como é mimado o Ronaldo. Reclama de qualquer jogada dando a impressão de que vai sair de campo dizendo um mal-humorado “não jogo mais”. E tem várias chances para dizer isso: o Grêmio não o deixa jogar. Com Thiego fixo como lateral-direito recuado, André Santos não pode avançar ao ataque e a bola não chega a Ronalddo. No meio, Adilson e Tulio são dois leões prontos para caçar a bola onde ela esteja e, se não der para caça-la, vai mesmo no adversário. Um pouco à frente, o maestro Tcheco comanda a sinfonia tricolor movimentando-se entre as duas intermediárias para armar jogadas, defender e atacar. O Grêmio não pára um instante, não deixa espaços e ataca com vigor por todos os lados. O Corinthians não tem chances. Ronaldo não tem chance. Só lhe resta reclamar de cara emburrada e assistir, de longe, ao show do time de Paulo Autuori nesta bela tarde de domingo.

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domingo, 5 de julho de 2009

Não vai coisa nenhuma, Tcheco!


A leitura do blog de Cristian Bonatto neste sábado mostra bem o que uma derrota pode causar em cabecinhas menos preparadas. Em um post intitulado “Juntando os cacos”, o autor afirma o seguinte acerca do capitão gremista:

“Sua permanência no Olímpico não é mais possível pelo simbolismo que adquiriu de um time, uma atitude, uma postura e uma forma de comportamento que não podem continuar iguais. Tcheco tem a procuração para representar este Grêmio que urge mudança. O desgaste com a torcida parte daí. Imaginamos por duas vezes a foto de Tcheco ao lado das imagens de De Leon e Adílson levantando Libertadores e acabamos tendo que ouvir sempre dele os pedidos de desculpas pelos tantos “quase lá” deste Grêmio pós 2005.

Se foi a imagem das mortes na praia, também foi o símbolo do “como este time chegou até ela?”. Uns o mandarão seguir o caminho das sombras, a maioria vai oferecer a porta da frente”

O sr. Bonatto é estudante de publicidade. É possível notá-lo claramente pelas fotos que ilustram o blog. A primeira delas, a maior, é um vidro rachado. É uma das janelas do quadro social do Grêmio, atacada por torcedores irritados pelo tratamento desumando dado pela direção aos sócios antes do jogo da última quinta-feira. A segunda, ao lado, é uma prova indiscutível de falta de cavalheirismo e bons modos. O leitor do Blog Perspectiva há de reconhecê-la de pronto: é a foto do post Trapo do Tcheco, que registra o processo criativo da nossa querida Madame Y, desenhista, pintora e integrante deste blog, ao pintar um trapo em homenagem ao capitão gremista. O sr. Bonatto não faz referência de onde conseguiu a foto, não cita fonte e nem presta esclarecimentos. Em suma: não faz nada do que as regras básicas da boa convivência na Web costumam receitar.

A combinação das duas fotos tem um claro objetivo, como toda combinação de fotos preparada por um publicitário: mostrar que Tcheco é o epicentro da crise, a causa dos males da equipe, o símbolo de derrota, de um time perdedor, de uma época marcada pela falta de títulos. Tcheco traz consigo, em seus lançamentos precisos, em suas cobranças de faltas laterais e de escanteio salvadoras (o gol de Réver contra o Cruzeiro nasceu de uma delas), em sua doação em campo e em sua notável capacidade de organizar o meio campo uma espécie de maldição que contagia toda a equipe e afasta o Grêmio das conquistas. O Tcheco do sr. Bonatto é um anti-Midas, um tipo malquisto por Deus e pelos homens, um perseguido pela má sorte. Um verdadeiro inimigo público.

O sr. Bonatto é definitivo: “Sua permanência no Olímpico não é mais possível pelo simbolismo que adquiriu de um time, uma atitude, uma postura e uma forma de comportamento que não podem continuar iguais”.

Mais:

“Não. Não há nada definido neste sentido. Apenas especulações da imprensa e interpretações das palavras do próprio Tcheco. Mas já vou me despedindo do capitão. Não há como pensar em uma reformulação de verdade no time do Grêmio com a manutenção do Tcheco.”

O que sr. Bonatto pede é que mandemos esse símbolo de “um time, uma atitude, uma postura e uma forma de comportamento que não podem continuar iguais” embora de uma vez. Não explica de qual time, de qual atitude, de qual postura e de qual forma de comportamento está falando. Talvez se refira ao Tcheco que, no intervalo do jogo contra o Cruzeiro, quando tudo estava perdido, disse que iria jogar para lavar a honra da torcida; ou do Tcheco que recusou os milhões dos árabes e preferiu satisfazer o seu desejo (e o da torcida) de jogar no Grêmio; ou do Tcheco que aceitou vir para o Grêmio em 2006, quando recém saímos da Segundona e ninguém – repito: ninguém – queria vir jogar em um clube falido e com um ano muito pouco promissor; ou do Tcheco que garantiu pelo menos duas vezes, de forma decisiva, a classificação do Grêmio para as finais da Libertadores de 2007; ou do Tcheco que tantas vezes entrou em campo sem as devidas condições físicas, porque o Grêmio precisava dele; ou do Tcheco que foi tantas vezes expulso porque, ao contrário de muitos, “profissionais”, ele não conseguiu controlar-se, não conseguiu ser profissional, não conseguiu manter-se frio diante do roubo descarado, da vigarice, da trama e dos inimigos do Grêmio. O Tcheco que fez tudo o que nós, cada um de nós, verdadeiros e apaixonados torcedores, faríamos no lugar dele. Deste Tcheco – diz o sr. Bonatto – não precisamos mais.

Diante de tanta sandice, tanta injustiça, tanta barbaridade escrita por alguém que tem o poderio das Organizações Globo a seu favor para dizer e fazer acontecer, talvez fosse fácil escrevermos um texto daqueles cheios de melancolia, de amargura, de indignação contra uma injustiça cometida. Seria fácil dizermos que o pobre Tcheco não merece receber em cima de si tantas asneiras ditas por um so-called gremista. Não o faremos. O post do Sr. Bonatto já é cheio de melancolia – de falsa melancolia, fabricada, de plástico, desvinculada da realidade e do momento – e não precisamos disso no momento. O sr. Bonatto talvez goste da saudável atividade de chorar no cantinho. O Grêmio – o meu Grêmio, o de Tcheco, o do Souza, o do Herrera e de tantos outros – não pode se dar ao luxo de ficar chorando no cantinho. Temos um Brasileirão inteiro para ganhar – e para ganhar, é preciso confiança, espírito de grupo e senso coletivo, e não aquela busca por bodes expiatórios tão típica dos fracos em momentos de crise.

Fica, Tcheco.

Vai, Bonatto. Por qualquer porta, dos fundos, da frente ou do porão. Mas vai.