terça-feira, 21 de abril de 2009

A derrota dos melhores

O poema “The Second Coming” – “A Segunda Vinda” – do irlandês William Butler Yeats é uma obra-prima da poesia moderna e uma das maiores peças literárias de língua inglesa em todos os tempos. Cheio do simbolismo muito particular à poesia do próprio Yeats, um estudioso de ocultismo e mitologias orientais (e, não obstante tudo isso, um cristão), o poema publicado em 1921 ala de uma época em que “tudo desmorona; o centro se desmembra/ Mere anarquia recai sobre o mundo/Monta a sombria maré sanguinolenta/ E a cerimônia da inocência é afogada em toda parte“. E, a seguir, resume em duas linhas qual é o espírito geral desta época: “Os melhores perdem toda convicção, enquanto os piores estão cheios de apaixonada intensidade”

Não é preciso dizer que as leituras de The Second Coming são quase tantas quanto são os seus leitores. Para Harold Bloom, Yeats enxerga a instalação do comunismo na Rússia, em 1917, e as suas promessas redentoras de criação de um novo mundo e de um novo homem como um prenúncio apocalíptico do retorno de um falso Cristo, de um falso Messias, de um Anticristo, prometendo uma Salvação sem Cristo e uma religião sem Deus – e, por isso, uma falsa Salvação e uma falsa religião. O último verso faz uma pergunta aterrorizante: “Qual horrenda besta, quando chegar a hora, arrastar-se-à até Belém para nascer?”. Talvez Yeats não se referisse apenas ao comunismo russo daquela época. Talvez este poema com mais de sete décadas de vida não seja mero produto de época – e, se o for, esta época provavelmente não terminou.

Para dizer a verdade, depois de saber deste caso, cristaliza-se em mim a convicção de que vivemos, sim, a época da Segunda Vinda, a época em que o centro que guiava o mundo já não retém nada, a época em que a besta procura Belém para renascer e, enganando a todos, guia a humanidade como um profeta em direção ao abismo. A época, em suma, em que os piores estão cheios de paixão, e que os melhores, como Gilberto Thums, perdem toda a convicção no que fazem.

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