terça-feira, 7 de abril de 2009

México: um novo estado dos EUA?

A premiê alemã Angela Merkel, em viagem ao México, disse aos políticos mexicanos que o país deveria passar a fazer parte dos Estados Unidos.

“Deixem-me falar claramente: a União Européia apóia firmemente a candidatura do México aos Estados Unidos“, disse ela diante da Assembléia Nacional Mexicana, sendo surpreendentemente ovacionada pelos deputados.

Merkel evocou os “séculos de história, de cultura e de comércio entre os países que os unem”.

Há dois erros no discurso da sra.Merkel. O primeiro é o de considerar os EUA como uma espécie de União Européia do Novo Mundo. Os países não se candidatam a fazer parte dos EUA como se candidatam a fazer parte da União Européia, como a Turquia vem tentando há anos e alguns países do Leste recentemente conseguiram. Provavelmente acostumada a entender os países pobres que limitam com o seu bloco como pedintes desesperados em busca de aceitação, a sra. Merkel achou que os mexicanos são, como os turcos, postulantes a uma vaga no clube dos ricos mais próximo. E este clube é, para ela, os EUA.

Em segundo lugar, o México não é um apêndice dos EUA. Não sei até que ponto a sra. Merkel conhece a história do país de Pancho Villa. Talvez não saiba que extensas partes do antigo território mexicano foram anexadas pelos EUA e talvez também não saiba das particularidades culturais daquela nação que, há mais de um século, repete para si mesma o velho ditado,: “Pobre México! Tão longe de Deus e tão perto dos EUA!”. O simples fato de que, em alguns estados do Sudoeste dos EUA, a imensa quantidade de imigrantes mexicanos tenha mudado consideravelmente o semblante e os hábitos de boa parte da população – a Califórnia é um caso amplamente conhecido deste fenômeno – não quer dizer que os EUA tenham sofrido uma transformação profunda em suas estruturas, em sua auto-imagem e nos seus ideais norteadores. Moreninhos ou não, indiáticos ou não, WASPS ou não, os americanos continuam rigorosamente iguais ao que sempre foram e muito diferentes do que o resto da América é, incluindo o seu vizinho, o Canadá. Aliás, um inspirado Hélio Jaguaribe nos alerta para o fato de que há muito menos unidade entre a América do Sul e os EUA do que entre aquela e a Europa latino-germânica.

Estas são as duas hipóteses que encontro para justificar a declaração da sra. Merkel: ignorância geopolítica e ignorância histórica. Se há uma terceira razão, confesso que nem quero pensar no que seria – até porque certamente não seria outra espécie de ignorância.

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