terça-feira, 16 de outubro de 2007

O riso amargo de Eisner

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Não lembro quem disse que era impossível existir literatura em países sem pobreza, mas lembro que achei logo de cara uma afirmação discutível. A África, o Sudeste Asiático e a América Central são paupérrimos e nem por isso estão no mapa literário mundial. O que se pode dizer, isso sim, é que a experiência da pobreza fornece um material rico para um escritor trabalhar – e não só para produzir uma literatura engajada, de condenação de mazelas sociais, mas também sobre os dramas íntimos dos homens. A pobreza é uma condição, muitas vezes inexorável e quase sempre indesejável, mas também pode ter um sentido transcendente, como mostram as religiões tradicionais que recomendam votos de pobreza.

É essa maneira de encarar a experiência da pobreza que transparece na obra transcendente do quadrinista Will Eisner (1917-2005).

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Nessa sua obra inicial Um contrato com Deus (Devir Livraria, 200 páginas, tradução de Marquito Maia), considerada a primeira graphic novel da história, Eisner lança mão de várias lembranças de menino pobre durante a Grande Depressão dos anos 30, quando vivia num cortiço em Nova York. Daí surgem temas ligados à condição judaica e à ligação especial que este povo tem com Deus, como na primeira história que dá título ao livro – e que é, também, muito recorrente para Eisner -, ou à miséria que a solidão faz com um homem, como na história O Zelador. Nessas histórias transparece também a veia kafkiana de Eisner, sempre pronta a mostrar a suprema miséria do homem com um riso no canto do rosto. Que é o riso dos pobres e desvalidos, sempre acompanhado de uma lágrima.

O livro pode ser encontrado na Livraria Cultura

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Kandinski

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Caminante


Caminante, son tus huellas
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino,
sino estelas en la mar

Antonio Machado