sábado, 11 de abril de 2009

Ler T.S. Eliot na Páscoa


0911

“O anjo no sepulcro vazio de Jesus”, Gustave Doré


T.S. Eliot é um poeta cristão, ou um cristão poeta, dependendo do momento. Nem sempre a matéria religiosa é dominante em sua poesia. Mas ela está sempre lá, mesmo indiretamente: a desolação de The Wasteland ante o mundo contemporâneo é a mesma que muitos cristãos da mesma época, principalmente católicos, sentiram ao verem o mundo que conheceram e ajudaram a construir ser destruído a partir de seus alicerces, como uma implosão. Eliot lamentava ao enxergar o mundo dessacralizado que se lhe mostrava, um mundo que parecia ter esquecido tudo o que os mártires, os santos, os doutores e tudo o que os homens da Igreja deixaram construído para nosso desfrute – e, com isso, esquecido também os valores básicos da civilização.

Como os maiores poetas, o grande mestre do Missouri também foi visionário. Tudo o que as abadias, os monastérios, as escolas e os claustros nos legaram é hoje pó a ser varrido pela vassoura do progresso histórico. Cada vez mais o mundo dá mostras claríssimas de que Deus, Cristo e a religião são problemas do passado. Eliot, como outros, o enxergou muito antes de todos. Como outros, não foi devidamente ouvido.

Por isso, a leitura do sexto coro de “A Rocha”, publicado em 1934, tem um significado especial nesta Páscoa de 2009. As belas mensagens em louvor ao Homem que morreu por nós dão aqui lugar a um poema de duras palavras, , duramente sarcástico, e também indignado, de dedo em riste para o leitor, mas nunca amargo ou desesperançoso. Este coro é uma convocação para a batalha num momento em que a maioria das pessoas pensa em celebrar e isso talvez não seja a atitude mais agradável a se fazer. Mas os grandes poetas, como T.S. Eliot, são homens à semelhança do Cristo especialmente inspirado do Evangelho de Mateus, X, 34-36: eles não vêm à terra para trazer a falsa paz , mas sim perturbar-nos com a espada.

É difícil para aqueles que nunca foram perseguidos
E para aqueles que jamais conheceram um Cristão
Acreditar nas histórias da perseguição cristã.
É difícil para os que vivem próximos à Delegacia
Acreditar no triunfo da violência.
Imaginais que a Fé já conquistou o mundo
E que os leões dispensem agora os carcereiros?
Será preciso vos dizer que tudo quanto foi pode ainda vir a ser?
Será preciso vos dizer que mesmo as iluminações medíocres
De que podeis vos jactar numa sociedade cultivada
Dificilmente sobreviverão à Fé que as tornou acreditadas?
Homens! Poli vossos dentes ao vos erguer e retirar;
Mulheres! Esmaltai vossas unhas
Poli os dentes do cão e as garras do gato.
Por que deveriam os homens amar a Igreja? Por que
deveriam eles amar suas leis?
Ela lhes fala da Vida e da Morte, e de tudo o que desgosto
lhes daria recordar.
Ela é meiga onde os homens gostariam de ser duros, e dura
onde a ternura os faria erguer um altar.
Ela lhes fala do Mal e do Pecado, e de outros fatos amargos.
Amiúde tentam eles escapar
À treva que no fundo os corrói e ao seu redor se alastra,
Sonhando com sistemas tão perfeitos em que o bem seja de
todo dispensável.
Mas o homem que é há de ofuscar
O homem que pretende ser.
E o Filho do Homem não foi crucificado apenas uma vez
para nos salvar,
O sangue dos Mártires não foi vertido apenas uma vez para
nos salvar,
A vida dos Santos não foram doadas apenas uma vez para
nos salvar
- Pois que o Filho do Homem é sempre crucificado
E o serão também os Mártires e os Santos
E se o sangue dos mártires deve escorrer sobre os degraus
Precisamos antes construir estes degraus;
E se deve ser o Templo derrubado

Precisamos antes ter o Templo edificado

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