quarta-feira, 11 de março de 2009

Inter 7 x 0 Brasil – Vale o que está na regra

Quando um lutador de boxe resolve competir ele é obrigado a assinar um termo de compromisso cujo conteúdo, em poucas palavras, diz o seguinte: eu sei no que estou me metendo, o negócio é violento mesmo e, caso as pancadas desferidas pelo meu adversário destruam a minha caixa craniana ou até mesmo me matem, a culpa é minha e só minha. Mesmo que eu esteja com o rosto demolido, o cérebro mortalmente comprometido, o olho vazado, a vida destruída, meu adversário está legalmente autorizado a continuar a encher meu rosto de porradas a fim de que eu caia, desmaie e não mais levante. Dele não espero cuidado nem respeito pela minha integridade física. A organização do evento que resultou em minha morte não promove a violência e o assassinato.Meu adversário responsável pela minha morte não é homicida.Ponto final.

O Brasil de Pelotas jogou hoje com o Internacional e perdeu por sete a zero. Sim, leitor, você leu bem: sete a zero. Nem três, nem quatro, nem cinco: setes impiedosos gols entraram na baliza defendida por Luis Carlos esta noite de 10 de março de 2009, no Estádio Bento Freitas, em Pelotas. Um gol a cada onze minutos, mais ou menos. Na casa do Brasil. Diante de milhares de ensandecidos xavantes, as gargantas mais potentes de todo o interior gaúcho, capazes de multiplicar seus gritos por cem e fazer até mesmo os clubes tradicionais, acostumados a jogar perante multidões, tremerem nas bases. Pois nada disso aconteceu. O Inter esmagou por sete a zero e está acabada a conversa.

Assim como o boxeador, o Brasil entrou na luta porque quis. Assinou o termo de compromisso mesmo após ter sofrido o lamentável acidente que todos conhecemos, mesmo após ter perdido o seu principal jogador e mesmo após saber que, devido ao calendário, teria de jogar de dois em dois dias. O Brasil entrou nessa batalha esperando que o óbvio não acontecesse, mas sabendo muito bem o que de fato iria acontecer. Logo, quando o óbvio acontece, não se pode culpar a ninguém a não ser ele mesmo. Não podemos exigir do Internacional, que anotou sete gols com a precisão e a frieza de um inquisidor diante de um infiel, que tenha qualquer resquício de magnanimidade para com o adversário visivelmente mais fraco . Não podemos exigir que o técnico Tite escalasse reservas para a partida, afinal, o jogo vale campeonato e é preciso vencer. Não podemos querer que os jogadores do Internacional, prevendo a impressionante humilhação a que o Brasil, jogando em circunstâncias especialíssimas – talvez mesmo inéditas – seria submetido,diminuíssem um pouco o ritmo veloz a que, bem treinados, descansados e emocionalmente tranquilos, estão acostumados a impor. Não podemos exigir, em suma, uma atitude semelhante à do sultão árabe Saladino, que enviava seus melhores médicos e mantimentos para os inimigos sobreviventes nas batalhas. Saladino viveu e morreu há quase mil anos e esse tipo de coisa seria hoje encarada como sentimentalismo patético, como falta de espírito competitivo, como falta até de respeito. Não é obrigação de ninguém agir, numa situação semelhante a essa, com magnanimidade ou grandeza de espírito, magnanimidade que é expressa justamente na hora da competição e não na dos discursos oficiais, dos tapinhas nas costas e dos olhares compungidos diante da desgraça alheia. E é justamente porque não se pode esperar algo assim é que estes atos são tão valorizados e tão nobres, e aqueles que o praticam entram para a História como exemplos maiores de virtude.

O Sport Clube Internacional aplicou uma goleada de sete a zero sobre o Brasil de Pelotas com toda a justiça do mundo. Vale o que está na regra e não vale questionar a sua atitude, como já o dissemos repetidas vezes acima. Mas vale perguntar: este agir contribui em alguma coisa para a grandeza do clube da Beira-Rio?

Escrito por Celso Augusto Uequed Pitol

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