quarta-feira, 11 de março de 2009

*Brasil 0 x 7 Inter, realmente vale o que está na regra: considerações sobre “o coitadismo”

*Eugenio Brauner

Fui motivado a escrever depois de tudo que li e ouvi hoje a respeito dos 7 a 0 do Inter sobre os xavantes. Aliás, ontem tive a experiência de assistir ao jogo ao lado do meu pai, o maior xavante da “minha” paróquia.

Muitos daqueles que estão escrevendo e falando hoje não sabem o que é ser xavante, nem o que é conviver diariamente com eles e com toda a passionalidade contida nos seus corações.

Esse papo de que o Inter não deveria ter feito isso ou aquilo é discurso daqueles que não respeitam a história de um clube quase centenário e primeiro campeão gaúcho (um brinde para aqueles que não sabem disso ou, creio eu, fingem esquecer).

O Brasil, hoje, tem a terceira maior venda de pay-per-view no Estado, é o clube do interior com o maior número de sócios – aliás, o meu pai tem o nome gravado na calçada do torcedor, defronte ao Bento Freitas, coisa que muitos nem sabem que existe – e que no seu passado tem feitos como, por exemplo, a eliminação do Flamengo (de Zico, Mozer e Cia.) no Brasileiro de 1985 – por favor, contextualizem isso para uma equipe do final do País.

Acho que o Inter deveria ter parado nos três. Aliás, acho que o Inter deveria ter feito um gol-contra de propósito. Melhor ainda, o Inter deveria ter feito um cai-cai em campo e abandonado a partida. Ou melhor, o Inter deveria ter se perdido no caminho e parado lá no Aldo Dapuzzo, em Rio Grande, e ter perdido por WO.

As pessoas deveriam respeitar o Brasil e não ter dó, pena ou qualquer sentimentozinho mais “ridículozinho”. Aliás, muitos do que estão falando isso hoje são apenas uns aproveitadores, populistas fajutos que jogam para a grande massa, pois no momento da porca torcer o rabo, ou seja, na hora de arregaçar as mangas, “deram um pinote”. E eu sei bem do que estou falando.

O acidente ocorrido em março é só mais uma pedra na história desse clube, assim como tiveram tantas outras, como, por exemplo, quando o Brasil quase foi despejado do seu estádio. Pedras que foram retiradsas do caminho e aqui está hoje o Brasil, com o seu maior patrimônio ao lado, a torcida.

Não é por isso que o xavante vai acabar, um acidente ou uma ação de despejo. O que falar, então, de uma goleada?

Não é uma goleada do Inter ou do Grêmio ou Ulbra que irá acabar com um sentimento pulsante, que trepida ao som da Garra, àquele tum-tum ritmado na arquibancada, seguido pelo “êêêhhh” da galera no início de cada jogo – e que embalou a minha infância nos estádios e no futebol de botão.

“ÊÊÊÊÊÊ se fudemo”, cantaram ontem os xavantes, da mesma forma que cantaram em todos os jogos em que foram derrotados desde sempre.

E respondendo a perguntinha do amigo Celso, grande Celso, não é um 7 a 0 que irá engrandecer o clube do Beira-Rio, pode ter certeza. Mas o respeito com que o Inter tratou o xavante dentro das quatro linhas. Ninguém fez embaixadinhas à Paulo Nunes ou passou o pezinho por cima da bola, ninguém debochou da torcida e coisa e tal, ninguém tripudiou ou provocou o adversário.

Acho que o Inter deveria ser eliminado do campeonato. Tsc, tsc. “Coisa mais feia, chutar cachorro morto” ou “o Brasil entrou nessa batalha esperando que o óbvio não acontecesse, mas sabendo muito bem o que de fato iria acontecer”. O Brasil não cachorro morto e, muito menos, o Brasil não entrou em campo esperando que o óbvio acontecesse, aliás, o meu pai disse que iria fazer o “crime” ontem.

Mas fazer o quê? O Inter é muito “malvado”, aliás, isso me lembra o velho papinho “do co-irmão pobre” que tanto falam na Azenha.

Aliás, não tenham pena do Brasil. Até mesmo, porque hoje, em Pelotas, ninguém está falando que o Inter não deveria ter feito o que fez, ninguém está com a síndrome do coitadismo. Não. Os xavantes já estão preparando a invasão a Bento Gonçalves. Até mesmo, porque o sentimento não acaba e o meu pai, rubro-negro inveterado, assina em baixo.

* Eugenio Brauner, conhecido como “Eugenio, o Impiedoso” é escritor , professor de literatura, colorado e só joga Winning Eleven no modo “very easy”.

Escrito por blogperspectiva

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