quinta-feira, 19 de março de 2009

Chávez, paladino da moral

“Hugo Chávez proíbe mostra sobre corpo humano na Venezuela
Presidente classificou a exposição de “macabra””

Notícia original aqui

Se me convidassem para assistir à mostra Corpo Humano Real e Fascinante, apresentada no BarraShopping Sul desde semana passada, aqui em Porto Alegre, eu certamente não iria. Não tenho prazer especial algum em ver músculos, ossos e crânios expostos como se fossem bananas na feira da esquina. Também não consigo ver beleza nesse tipo de coisa e não creio que, sabendo da existência desta mostra, fosse indicá-la a algum amigo.

O senhor Hugo Chávez concorda comigo. Não gosta desta mostra. Acha-a feia, como eu. Não quer que seus filhos a assistam, como eu não iria querer se tivesse filhos. Não pretende indicá-la à vizinha, aos amigos no bar, ao primo com quem joga Winning Eleven, ao senhor idoso com que engata conversa no metrô. E nem eu. Aliás, só estou fazendo propaganda do evento por causa do caso envolvendo o presidente venezuelano. Não gosto deste evento. Posso dizer, até, que sinto um pouco de raiva dele, uma pontinha de ódio, um ódio irracional e baixo. OK, não sinto nada disso, mas poderia sentir. Sem problema algum. E o senhor Chávez também pode sentir a mesma coisa que eu.

A questão é que o senhor Chávez não se limitou a gostar ou desgostar da exposição Corpos Revelados (foi esse o título que recebeu na Venezuela) e do seu impacto diante do público. Foi além: resolveu decidir pelos venezuelanos e proibiu o evento com o seguinte argumento:

— Estamos em meio a algo macabro. São corpos humanos. Corpos humanos! Este é um sinal realmente claro da enorme decomposição moral que atinge nosso planeta

“Decomposição moral” e termos assemelhados são expressões típicas de sacerdotes diante da derrocada dos valores tradicionais no mundo contemporâneo. Lamentar pelo fim dos valores é apanágio daqueles que defendem a existência atemporal destes valores e não os sujeitam a meras contingências de tempo e espaço. Porém, como pode alguém como Chávez falar sobre moral se o seu herói, Karl Marx, dá a seguinte definição de moral:

“É a impotência posta em acção. Todas as vezes que luta contra um vício é vencida. E Rodolfo nem sequer se eleva ao ponto de vista da moral independente, que, ela pelo menos, assenta na consciência da dignidade. A sua moral, pelo contrário, assenta na consciência da fraqueza humana. É a moral teológica. As proezas que realiza com as suas ideias fixas, cristãs, com as quais mede o mundo, a caridade, a dedicação, a abnegação, o arrependimento, os bons e os maus, a recompensa e a punição, os castigos terríveis, o isolamento, a salvação da alma, analisamo-las pormenorizadamente e desmascaramo-las como farsas.”

Para Marx, a moral era uma farsa a ser desmascarada. Mesmo assim, para marxistas como o sr. Chávez é preciso defendê-la a todo custo em um mundo que já não a respeita. Ora, talvez seja porque a moral de Chávez, assim como o seu discurso, não passe mesmo de uma farsa.

Escrito por Celso Augusto Uequed Pitol

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