terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Bixos, trote universitário


Mateus Broilo da Rocha*

Bem, amigos do Blog Perspectiva, eu não sou conhecido de vocês ainda, mas hei de ser daqui por diante. Antes de mais nada, sinto-me na obrigação de introduzir minha pessoa, meu nome é Mateus Broilo Da Rocha – salvo piadas – não tratarei de assuntos restritos tampouco escreverei com freqüência (sim, eu não aderi à Cretinice Ortográfica ), não sou jornalista, muito menos um aspirante, portanto, imparcialidade não faz a minha imagem.

“Quantas outras pessoas queriam ser BIXOS como vocês? Vocês são os calouros da federal, o trote é um tipo de boas-vindas”.

Foram estas as palavras proferidas a mim e a mais tantos outros alunos em uma quinta-feira à tarde ao fim de uma aula de ‘Química Fundamental A’. Sou universitário do curso de Física – Bacharelado da UFRGS, e lembro bem que no início do ano letivo, do primeiro semestre da faculdade, eu estava com a mão direita fraturada. Para ser mais preciso, tinha fraturado o quinto metacarpiano – sim sim mesmo problema que lutadores de Boxe, em algum momento de suas carreiras, passam – e não, não pratico Boxe -, msa de fato estava eu com o ante-braço engessado. Foi, no mínimo, contagiante aquele trote, pois, eu estava/estou da Universidade Federal do Rio Grande do Sul! Passamos pela brincadeira do elefantinho*– calma, eu explico -, e fomos sujos de tinta; erva-mate; azeite; farinha; água de peixe; esmalte; batom; terra; vinagre… ( imagina o cheiro da gente ao final, e eu preciso pegar um ônibus e o trem para voltar para casa ). De certa forma, foi um trote saudável, pois não exigiu da nossa saúde, e só participou quem quis. Enfim ninguém saiu ferido. E espero que neste ano de 2009, nos trotes na UFRGS, e de qualquer outra das demais instituições, não haja violência como foi o caso de algumas universidades do estado de São Paulo.

É impressionante a tamanha falta de respeito com que os veteranos ‘de lá’ demonstraram frente a essa brincadeira. Uma caloura, grávida de três meses foi queimada em várias partes do corpo com um líquido onde um dos constituintes era creolina, produto este exclusivo de uso animal. Em outros lugares, os estudantes foram submetidos a sessões onde deveriam rolar sobre fezes de animais, quiçá humanas. Ainda em outros lugares, estudantes foram chicoteados – sim, chicoteados – e embebedados a ponto de entrarem em coma alcoólico. Parece que esses trotes universitários cada vez mais vêm se tornando assunto de polícia, e se não forem contidos de alguma maneira, continuarão sendo manchetes das páginas policiais. Vale a pena lembrar, também, da morte do calouro Edson Tsung da USP, não me recordo o curso, há 10 anos atrás, onde ele e tantos outros foram jogados dentro de uma piscina e espancados se tentassem sair. Na manhã seguinte, o corpo, já sem vida, de Edson fora encontrado boiando na piscina. Edson Tsung não sabia nadar, maa mesmo assim não era motivo para não participar da “brincadeira”.

*A brincadeira do elefantinho diz que devemos, todos, nos curvar; passar uma das mãos por baixo das pernas da pessoa a nossa frente e segurar em uma das mãos dela; passar a outra mão por baixo das nossas pernas e segurar nas mão da pessoa de trás. Andar, ainda curvado, e, em nossa condição de Aspirantes a Físico, gritar: “ Uto, uto, uto, engenheiro é tudo p***(!)

* Mateus Broilo da Rocha é estudante universitário, gremista e sobreviveu ao trote.

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