domingo, 10 de maio de 2009

O portão do parque

O Parque Municipal Getúlio Vargas em Canoas /RS é um dos locais destinatário de meu afeto. Amo o parque e sempre me revigorei caminhando por ali, sentindo o arzinho frio de fim de tarde nos dias amenos e a refrescante sensação provocada pelas árvores amigas nos quase intoleráveis dias de verão. Gosto da sensação de estar longe do burburinho urbano sabendo que estou perto das vantagens que ele proporciona. A sensação de informalidade de subir o pequeno barranco e entrar no parque já na pista de caminhada , pelo portãozinho lateral, sempre me foi prazeirosa. Fazia parte do “ritual” de fim de tarde. E sei perfeitamente que esse gostar não é exclusividade minha. A crescente frequência do parque demonstra isso.

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Esse prazer foi quebrado no final de 2008 quando o parque foi cercado e o portãozinho fechado pelo medonho muro, sob o argumento de aumentar a segurança dos moradores do residencial ao lado. Como se resistentes cercas de arame e portão fechado à noite não resolvessem o problema de segurança de forma tão ou mais eficiente do que um muro que pode ser facilmente transposto por jovens com corpos leves.E cerca de arame não impediria a visão de quem circula pelo parque e/ou pelo residencial.

A harmonia foi quebrada. Parque de um lado e “gueto” de outro, assim ficamos.Imperando esse raciocínio segrecionista não existirão muros de concreto suficientes para atender a demanda. Mas essa é outra discussão. Quanto ao meu/nosso parque, ele foi brutalmente atingido pelo muro. A magia foi quebrada, a beleza diminuida e , além disso, o acesso dificultado.

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Quando aqui postávamos e exaltávamos o parque esquecemos os poetas e seus alertas. Enfocávamos o parque Getúlio Vargas belo como ele era, imaginando que ele assim permaneceria. No entanto, passando por ali nesses dias me vinha à cabeça o que nos legaram a genialidade de autores do cancioneiro brasileiro.

Disse Cássia Eller :

“Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre, sem saber, que o pra sempre
Sempre acaba…”

Disse Lulu Santos:

“Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará”

ou Chico

“Quem não a conhece não pode mais ver pra crer e quem jamais a esquece não pode reconhecer.”

Passou. Aquela integração, aquele despojamento no limite certo faz parte do passado, com a presença do concreto do medonho muro.

A caminhada no parque visava o prazer e agora ele fora embora, ficando apenas saudosas recordações e, porque não dizer: irritação. Então, fiz o que aconselho fazer nessas circunstãncias: abandonei o local que provocava esses nocivos sentimentos.

Porém, nesse dia dedicado às mães, espírito elevado, saudade de uma senhora de cabelos brancos e riso franco amenizada pelo afeto que me cerca, resolvi vencer a preguiça matinal e fazer uma caminhada. Ao passar pelo parque olhei para onde existia o velho e amigo portãozinho que nos conduzia para dentro da pista de caminhada, a chamada pista pequena e…

ELE VOLTOU!

Com um novo visual, com um velho cadeado o mantendo fechado, mas na essência ele voltou, sinalizando a possibilidade de ser aberto novamente.fotos novas 001

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Falta só que seja aberto o cadeado que o mantém fechado.As “simpáticas” guardas do parque nada souberam informar. Vamos aguardar para que seja divulgado os horários de abertura e fechamento, porque não seria lícito imaginar que um portão fosse ser ali colocado para não ser aberto.

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