segunda-feira, 8 de junho de 2009

Obama no Cairo: uma breve análise

O discurso de Barack Obama no Cairo, neste último dia 4, foi mais uma aula de sensibilidade política e diplomática do presidente americano. Aplaudido entusiasticamente logo na entrada, começou com um agradecimento à Universidade do Cairo, ao povo egípcio e lembrando do que significava estar ali, naquela cidade milenar, falando aos árabes sobre um recomeço de relações. Acabou a primeira parte do discurso com a tradiconal saudação árabe "Assalamu Alaikum". Ovação total. Qualquer desconfiança inicial já se havia dissipado. A porta para o desfile do mestre Obama estava aberta.

E ele não decepcionou seus fãs: falou de um recomeço de relações e lembrou, com cautela, que Islã e Ocidente nem sempre estiveram em relação amistosa. Mostrou-se humilde o suficiente para reconhecer que não tinha condições para, num só governo, reatar essas relações. Disse que precisamos abrir os corações, falar abertamente uns aos outros e, para isso, citou o Corão várias vezes. Em seguida, lembrou de suas raízes islâmicas - seu pai era muçulmano - e tocou num ponto fulcral para quem quer conquistar a atenção dos árabes: a contribuição islâmica para a cultura Ocidental. Obama sabe muito bem de quão orgulhosos são os árabes de hoje pelos feitos de seus antepassados, à maneira daquele personagem do filme Casamento Grego para quem até a palavra "quimono" era de origem helênica. Aliás, sabe de tudo o que a sua platéia - qualquer platéia - gosta de ouvir.

Terminou a primeira parte do discurso lembrando algo que faria qualquer neocon republicano tremer nas bases: Thomas Jefferson, founding father, tinha um Corão em sua biblioteca pessoal. Um show. Aplausos delirantes para o representante do Império em terras de Maomé. O discurso inteiro, aliás, está aqui para quem quiser aprender com o mestre Obama.

O imperador grego Alexandre, quando conquistou o Oriente Médio, foi chamado pelos árabes de então - ainda não muçulmanos - de Iskandar Zu al-Karnayn, "Alexandre, o Bicorne", pelos dois chifres que usava no seu capacete representando o Ocidente e Oriente. Obama não usa chifres. Tem a cor de sua pele, o seu nome - Hussein Obama - e a sua origem, por lado; e por outro, o cargo de presidente do Império para defender. Nenhum capacete, nenhum símbolo, nenhum discurso pode superar isso e nenhuma carranca de islâmico anti-Ocidente resiste a ele.

O resultado? Um presidente dos Estados Unidos é popular entre os árabes. Yeah, baby!

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