sábado, 27 de junho de 2009

O crime de Maxi López

Está aberta a temporada de caça a argentinos. Você, que mora na fronteira do Rio Grande do Sul com o país do tango, pode tirar do porão aqueles velhos Schmidt & Wesson que seu bisavô usava para correr com os castelhanos nos momentos de tédio. Limpe o cano, veja se o interior dele precisa de um polimento, ajuste a mira e prepare-se para usá-lo no primeiro cabeludo de nariz pronunciado que aparecer diante de você pedindo "dame dos" ou algo parecido. Fique à vontade. Gaste as balas que quiser. Os argentinos, desde quarta feira passada, são oficialmente inimigos do Brasil.

A situação lembra-me um pouco aquela cena de "Estamos todos bem", de Giuseppe Tornatore, em que Marcelo Mastroiani é parado na rua por um policial romano que lhe pergunta quem é e o que faz. Mastroiani responde: "sou siciliano. É algum crime?". Para muitos italianos de Roma para cima, ser siciliano é, sim, um crime. Para muitos brasileiros, crime ainda maior é o de ser argentino. Para Wianey Carlet, os platinos têm mesmo o hábito de chamar os brasileiros de macacos. Para os jornalistas do SporTV, que cobriram o acontecido em primeira mão, é certo que Wagner e Elicarlos têm razão e Maxi Lopez é, sim, um racista de marca maior. Pensa a mesma coisa o autor do Blog do Torcedor do Cruzeiro, P.C. Almeida, para quem Maxi tem de pagar por um crime que ninguém ainda comprovou que cometeu. E muitos outros pensam a mesma coisa. Não interessa se o vídeo não mostra claramente o que Maxi Lopez disse ou não disse. Não interessa quão estranha foi a atitude de Elicarlos, deixando para denunciar ao final do jogo um fato - e um fato supostamente gravíssimo - ocorrido no primeiro tempo. Não interessa saber se, afinal, a palavra "macaco" existe ou não existe no idioma espanhol (e não existe). Tampouco interessa a amizade de Maxi Lopez com Ronaldinho Gaúcho, nascida durante a época de Barcelona. Nada disso interessa. A única coisa que interessa é a nacionalidade de Maxi López. Ele é argentino, e isso é um atestado definitivo de que se trata de um racista empedernido, um neonazista, um tipo que passa os jogos chamando os jogadores negros de macacos.

Muitos lembram de casos semelhantes, como o do também argentino Desábato, o de Antonio Carlos quando atuava no Juventude, os de vários jogadores europeus que sentiram na pele (literalmente) gritos racistas das torcidas adversárias e dos próprios adversários. Lembram disso mas esquecem de que, nesses casos, há provas conclusivas que vão muito além dos preconceitos de nacionalidade que fundamentam as acusações ao atacante tricolor.Estes acontecimentos distintos foram colocados lado a lado pelos motivos errados. Eles têm, sim, algo em comum: a impossibilidade de defesa. As câmeras flagraram Desábato, logo, ele não tem muito o que dizer em sua defesa. As câmeras também flagraram Antônio Carlos e ele também não tem o que fazer quanto a isso. Não podem se desculpar pelos crimes que cometeram, assim como Maxi Lopez. Desse crime - o de ser argentino - ele será eternamente culpado.

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